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@dibrigido
O turismo é uma atividade extremamente sensível a fatores externos, e sofre os impactos de crises econômicas, sociais e de saúde, quase que imediatamente. Como indústria, a atividade ajuda a distribuir renda, promovendo um fluxo constante de pessoas pelo globo, gerando negócios e oportunidades, tanto para grandes corporações quanto para pequenos empreendimentos.
Estamos falando de um segmento que, de acordo com pesquisa do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (WTTC, na sigla em inglês) e da Oxford Economics, respondeu, em 2018, por 10,4% de toda a atividade econômica do planeta; empregou uma em cada cinco pessoas, desde 2014, e movimenta US$ 8,8 trilhões ao ano.
Pasmem! Se fosse um país, o turismo só ficaria atrás dos EUA, que movimenta US$ 20,6 trilhões e da China, com US$ 11,5 trilhões ao ano.
Tudo isso depende, no entanto, do interesse do visitante em viajar – se não há viagem, não há receita. E, claro, o interesse na viagem está diretamente ligado a quão seguro o viajante se sente para adentrar um outro território. E é aí que voltamos à sensibilidade da atividade turística. É aí que precisamos falar sobre o novo coronavírus.
Os números não param de crescer
[Provavelmente até o final dessa matéria, os números já tenham mudado] O surto crescente causado pelo Covid-19, com origem na China, vem causando estragos na economia mundial e, sobretudo, no turismo. Na lacuna de tempo existente entre a expansão do contágio pelo vírus e a profilaxia do mesmo, o desastre pode ser enorme, ainda mais quando falamos de uma atividade extremamente sensível.
Já são mais de 105 mil casos do novo vírus em quase 100 países e territórios, de acordo com a agência Reuters; a China lidera com mais de 80% dos contagiados. A Itália, que concentra o maior número de casos na Europa, tem mais de 9 mil infectados, quase 500 mortos (mais de 3500 pessoas morreram em todo o mundo) e, na última segunda, 9 de março, o governo decretou quarentena em todo o país, restringindo a entrada e saída de pessoas.
No Brasil, de acordo com o Ministério da Saúde, são 930 casos suspeitos (até 9 de março) e 30 confirmados. O que mais assusta com relação ao novo coronavírus é a velocidade de contágio, que deixou ‘no chinelo’ as epidemias recentes, como SARS e H1N1.
E o turismo?
O turismo, obviamente, tem sido o setor mais afetado com a epidemia do coronavírus. Além dos destinos de férias, festas populares e viagens de negócios também são fortemente prejudicadas.
Os cancelamentos de viagens aéreas e cruzeiros marítimos crescem diariamente, em um ritmo assustador. Ninguém quer estar perto do surto ou correr o risco de viajar saudável e voltar doente. Algumas companhias aéreas, redes hoteleiras e armadoras marítimas estão remarcando viagens, alterando destinos ou cancelando, sem prejuízo para os clientes – talvez assumindo possíveis danos, outras cobram multa e não ressarcem os viajantes. No Brasil, de acordo com a Associação Brasileira das Agências de Viagem (ABAV), cada agência está tratando individualmente os casos. Mas, ainda segundo a associação, as políticas de remarcação não são das agências de viagens e, sim, das companhias aéreas, hotéis, locadoras de automóveis etc, e que tem pedido aos fornecedores que não estabeleçam multas para os casos de remarcação de viagem
O turismo corporativo também tem sofrido as consequências. Na Europa, eventos que atraem milhares de pessoas todos os anos foram cancelados ou adiados. O Salão do Automóvel de Genebra, por exemplo, que celebraria sua 90a edição, foi cancelado às pressas, já com a feira praticamente montada. A ProWein, maior feira de vinhos do mundo, na Alemanha, que aconteceria entre 15 e 17 de março e esperava receber mais de 60 mil visitantes, foi adiada, sem previsão de acontecer.
Congressos, feiras e convenções representam os maiores orçamentos do turismo de negócios, já que reúnem milhares de participantes. Portanto, os impactos com os cancelamentos são ainda maiores que aqueles causados pelo turismo de lazer.
A realidade, no entanto, é que os dois tipos de turistas estão desistindo de viajar (lazer e negócios). A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA), que representa as 290 maiores companhias do setor, estima, com isso, um prejuízo de cerca de U$ 29,3 bilhões em 2020. De acordo com a IATA, quase 50% dos clientes deixaram de voar e a maioria exige o ressarcimento pelo cancelamento.
Desde o início do ano, a rede de hotéis Marriott fechou 90 unidades na China e, em fevereiro, a receita por quarto, da rede, caiu 90% em relação ao mesmo mês de 2019.
A estimativa de especialistas é que a crise provocada pelo surto traga efeitos a longo prazo e se prorrogue até 2021.
No Brasil…
O governador de São Paulo, João Dória, em entrevista na última segunda-feira, 9 de março, afirmou que o Brasil ainda não foi afetado pela epidemia e que, por isso, não há motivo para pânico. Segundo ele, as autoridades sanitárias têm feito um forte trabalho de controle nos portos.
No entanto, ainda que o coronavírus não tenha se alastrado pelo país, como no resto no mundo, sobretudo na China e na Itália, o impacto na indústria do turismo nacional já pode ser sentido, sem previsão de que um novo horizonte se descortine.