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Sempre que pensamos em máscaras, associadas ao turismo, somos levados ao carnaval. Ele encarna a magia de nos fantasiarmos e termos nossos rostos coloridos por alguma maquiadora especializada ou por uma bonita máscara, que vem carregada de simbolismo e muitas vezes de protesto. Tive duas experiências fantásticas nos últimos dois anos: uma participando no Carnaval de Veneza, com meu rosto pintado e com minha mascara de arlequim, que me fez viver momentos inesquecíveis na Piazza San Marcos e pelas diversas ruas. Era um folião solitário, que fotografava tudo que via e era chamado para fotos por turistas do mundo inteiro. A segunda foi no carnaval de 2020 onde me fantasiei de palhaço durante um dia e percorri diversos blocos e ruas, alegrando crianças, mas, sobretudo tendo a experiência única de fazer um personagem, que traz tanto amor para a humanidade. E bom lembrar que as máscaras eram usadas de forma espontânea e significavam felicidade profundada.

As mascaras também fazem parte do Cerque do Solei-la Comedia dela Arte, dos circos e do dia a dia do turismo. Nossa atividade vive um mundo do faz de conta, onde tudo deve ser perfeito, em horários exatos e com sorrisos o tempo inteiro. A Disney, por exemplo, na sua prestação de serviço tão elogiada me parece em alguns momentos com um pouco de excesso em tantos sorrisos e frases feitas de boas vindas, repetidas o dia inteiro, como se decorassem poemas sem alma. Devo confessar que o turismo é um teatro, onde o trade se encontram em feiras, coquetéis, famtours mostrando sentimentos de amizade e pousando para fotos, com uma tristeza interior muitas vezes, que não pode ser mostrada e que obriga a uma ansiedade positiva continua, que só existe na imaginação dos que a perpetuam e vivem assim o mundo paralelo, onde se fabricam sonhos com até vivências culturais, desenvolvidas para mero entretenimento com reproduções de destinos turísticos, para vivências fictícias. A concorrência existe e nos bastidores gera muito ruído e brigas. No fundo, são mascaras que cobrem a realidade e desafiam o bom senso das pessoas, com um misto de divulgação, com aperfeiçoamento do que é negativo.

A pandemia fez finalmente as mascaras caírem. Nunca vi tanto ódio e tanta mentira em redes sociais, fomentadas para que a população não percebesse que o exemplo vem de cima e que hoje elas são nossa razão de viver e continuar lutando. Algumas deixaram de ser usadas e mostraram o real significado daqueles que não acreditam no vírus e outros que continuam pensando que tudo é passageiro. Não, nada será como antes e não adianta ficar falando em retomada do turismo, sem que sejam feitas campanhas educacionais para o respeito do próximo com distanciamento social, higienização mascara obrigatória e transportes coletivos sem aglomeração. O PROCON precisa atuar para coibir divulgação de pacotes e serviços com preços impossíveis de serem praticados! As empresas aéreas brasileiras lotam aviões em alguns trechos, com preços abusivos e sem pensar que a nova configuração das aeronaves e procedimentos de embarque e desembarque é doravante um procedimento vital. Fora que vários colaboradores foram demitidos de suas empresas, após relevantes serviços pelo Skype!

AS máscaras estão sendo um instrumento de proteção, mas também de não cumprimento de direitos vitais, como o auxilio aos guias de turismo e a regulamentação do teletrabalho. Vamos fazer com que elas tenham função de solidariedade e não sirvam de vergonha para esconder falta de compromisso e ética com aqueles que vivem da atividade ou simplesmente acreditam em campanhas de volta ao normal, praticadas de forma indevida .

 

Bayard Do Coutto Boiteux é professor universitário, escritor, funcionário público e trabalha voluntariamente no Instituto Preservale e na Associação dos Embaixadores de Turismo do Rio de Janeiro. (www.bayardboiteux.com.br)