O sociólogo britânico John Urry, morto em 2016, é um dos grandes nomes das pesquisas da disciplina sobre o turismo mundial. Sua obra mais importante é O olhar do turista, publicado na Grã-Bretanha em 1990 e editado no começo dos anos 2000 no Brasil. Nele, o estudioso investiga como os objetos de desejo dos turistas (cidades, países, rituais, comidas, cartões-postais etc.) são modificados pela maneira como os viajantes olham para eles.
No livro, Urry também se dedica a pesquisar em que momento os fluxos entre turistas no mundo deixou de ser um privilégio dos ricos e passou a ser um fenômeno de massa.
Segundo a Organização Mundial do Turismo (UNWTO, na sigla em inglês), órgão da ONU, 1,3 bilhão de pessoas se movimentaram pelo planeta no ano passado — um crescimento de 7% em relação a 2016. O número cresce ininterruptamente desde 2010, quando 892 milhões de turistas circularam pelo globo.
Segundo o sociólogo britânico, o desenvolvimento do turismo de massa começou com a classe trabalhadora do Norte da Inglaterra, quando a experiência da viagem se democratizou no país, já no final do século 19, com o crescimento das linhas férreas e das promoções de viagens de lazer se estendiam para além das excursões de um único dia.
Com esse fenômeno, os diferentes lugares também passaram a atender diferentes demandas do olhar do turista.
No século 19, ir à praia de tornou um lazer da massa suficiente para criar um mercado de mercadorias e serviços dedicados ao olhar desse turista novo.
Para o sociólogo, um dos motivos que permitiu a expansão do turismo de massa foi a melhora econômica da maioria da classe trabalhadora, que passou a poder acumular poupanças entre as férias para viajar.
Outro foi a rápida urbanização das pequenas cidades da Inglaterra, que cresceram sem espaços públicos suficientes para dar conta do tempo livre das pessoas e aumentando a segregação entre classes.
Uma terceira condição foi a reestruturação do trabalho, que passou a ser uma atividade separada das festas e da religião e voltada para o cálculo racional do tempo. Foi nessa época que surgiram as regras de pontualidade e disciplina produtiva, além do discurso rígido contra a ociosidade e usos “indevidos” do tempo livre.
Curiosamente, as divisões são mantidas no turismo interno europeu até hoje: os ricos viajam às praias do Mediterrâneo e os pobres, quando podem, conhecem suas próprias praias.
Fonte: Massa News