“Na planície avermelhada os juazeiros alargavam duas manchas verdes. […] A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da catinga rala”. O livro “Vidas Secas”, de Graciliano Ramos escrito na década de 1930, descreve uma realidade vivida pelos retirantes nordestinos, em um cenário de terra seca onde famílias são obrigadas a migrarem para outras regiões em busca de comida e água.
A obra, tão utilizada e mencionada em vestibulares de todo o país, pode dar uma impressão superficial sobre a região do agreste e do sertão nordestino, que guarda uma opção de turismo que atrai milhares de pessoas todos os anos para diversos municípios, como é o caso de Pernambuco, onde, anualmente, 100 mil pessoas decidem passar uns dias em meio ao cenário rural, em fazendas “escondidas” entre vales esverdeados e longas estradas, de acordo com dados da Associação Pernambucana de Turismo Rural e Ecológico (Apeturr), que reúne mais de 30 fazendas da região.
No geral, 90% do público que compõe os grupos de aproximadamente 40 pessoas que se deslocam em caravanas de ônibus para as fazendas, vem da própria região Nordeste, encarando as longas estradas, que deixam para trás a silhueta de prédios e o agito das grandes metrópoles, para aproveitarem as atividades mais tranquilas e simples do campo.
UMA EXPERIÊNCIA DA TERRA
Ordenhar vacas para ter o leite do café da manhã, andar a cavalo em pequenos caminhos de terra, fazer trilhas em meio aos montes esverdeados do agreste, passear de trator pelos vales, ver de perto os animais do campo e do bioma pernambucano, colher e comer frutas direto das plantações e, por que não, curtir o tradicional forró das noites de sábado, ao som dos músicos locais e do canto noturno de grilos e rãs. O roteiro afugenta os mais jovens, que preferem tomar banhos de sol nas praias, mas se torna um prato cheio para famílias e pessoas na melhor idade, que parecem energizadas e cheias de vitalidade quando entram em contato com o campo.
Uma experiência completa no campo, que também mescla uma extensa variedade gastronômica no almoço e no jantar, inclusos nos valores das diárias, que variam entre R$ 200 a R$ 700 por quarto, trazendo aos visitantes pratos tradicionais da culinária local, criações próprias (você já ouviu falar de geleia de pétalas de rosa? Pois é) e frutas, vegetais e doces cultivadas e produzidas ali mesmo, há poucos metros dos quartos.
Disposição é o que não pode faltar se a intenção é aproveitar ao máximo a variedade de atividades. Acordar bem cedo, antes de o sol dar as caras, tomar o café da manhã e estar pronto para encarar qualquer atividade, seja trilhar subidas, caminhar pelos hectares das fazendas ou conhecer a região, onde se destaca Garanhuns, conhecida pelo festival anual de inverno em julho, que atrai milhares de pessoas, e mais recentemente, pelas decorações do Natal Luz, que se estende ao longo de todo o mês de dezembro. Se quiser ver tudo isso de perto, é bom se preparar para encarar a estrada, já que as cidades são bem afastadas umas das outras.
CRESCIMENTO
Segundo a presidente da Apeturr, Melânia Vieira, devido a crise econômica, os índices de 2016 foram baixos, porém houve uma recuperação quase total em 2017 e a expectativa é de alta em 2018. “Esperemos ter um aumento de 20% no fluxo, no comparativo de 2016 com 2018, e por volta de 5% de 2017 para o próximo ano. A crise afetou a movimentação, mas neste ano o fluxo voltou aos índices de 2015 e já podemos ter este panorama de alta”, detalhou.
Por isso, quando estiver com a ideia de passar uns dias em Pernambuco, não deixe de conferir as praias e o litoral do estado, porém, também não deixe de conferir a experiência única que o turismo rural pode proporcionar. Só lembre-se de levar um par de chinelos, um protetor solar e muita energia para aproveitar.
Foto: Reprodução
Fonte: Mercado&Evento